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EAD supera ensino presencial pela primeira vez na história do Brasil

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EAD supera ensino presencial pela primeira vez na história do Brasil

Inep divulga resultado do Censo Superior 2024 Conforme a pesquisa estatística, Brasil alcançou marca de 10 milhões de estudantes no ensino superior em 2024.

Gabriela Alencar

23/09/2025

Censo da Educação Superior 2024 mostra que modalidade à distância representa 50,7% das matrículas no país

O Brasil atingiu um marco histórico na educação superior em 2024: pela primeira vez, o número de estudantes matriculados em cursos de educação à distância (EAD) superou o ensino presencial. Dos 10,22 milhões de universitários brasileiros, 5,18 milhões (50,7%) estão cursando graduação na modalidade online, segundo dados do Censo da Educação Superior 2024, divulgado nesta segunda-feira (22) pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

Os números revelam uma transformação radical no perfil da educação superior brasileira. Em uma década, as matrículas em EAD explodiram 286,7%. Para se ter uma ideia da dimensão dessa mudança: em 2014, apenas 2 a cada 10 estudantes de ensino superior estavam matriculados em cursos à distância. Em 2024, são quase 7 a cada 10.

Presencial em queda

Enquanto o EAD disparava, o ensino presencial seguia o caminho inverso. A modalidade presencial registrou queda de 22,3% nas matrículas nos últimos 10 anos, consolidando uma inversão de tendências que especialistas já vinham observando desde o início da década.

“Estamos com 10 milhões de estudantes, e essa é uma marca a comemorar. Uma parcela importante dessa população teve acesso à educação superior por meio de novas tecnologias”, afirmou Manuel Palacios, presidente do Inep, durante entrevista coletiva na manhã desta segunda-feira.

Em nota, os diretores da Conteúdo Edu avaliaram que “o aumento do EAD abre as portas para uma adequação das instituições de ensino. Este cenário não desmerece o ensino presencial, mas exige que as IES repensem suas estratégias. Quando uma instituição decidir ofertar o presencial, precisa oferecer diferenciais que façam o aluno optar por essa modalidade – seja por meio de laboratórios de ponta, experiências práticas diferenciadas, networking qualificado ou metodologias inovadoras que só o ambiente físico pode proporcionar”.

Os especialistas da Conteúdo Edu foram além e provocaram: “Estamos assistindo uma das maiores revolução educacional, instituições que insistirem em modelos antigos, sem agregar valor real ao presencial, podem desaparecer do mercado”.

Pedagogia domina geral, Direito lidera presencial

O curso de Pedagogia mantém a liderança absoluta como o mais procurado do país, com 887.695 matrículas no total. Na sequência aparecem Administração (653.126) e Direito (652.996).

A diferença fica clara quando se separa por modalidade: Pedagogia é líder no EAD, com 733.253 estudantes à distância, mas tem apenas 154.442 alunos presenciais. Já Direito é o campeão presencial, com 652.960 matrículas nessa modalidade, mas praticamente não oferece EAD.

Os maiores cursos no EAD são:

  1. Pedagogia – 733.253 alunos
  2. Administração – 438.487 alunos
  3. Sistemas de Informação – 262.903 alunos

Os maiores cursos presenciais são:

  1. Direito – 652.960 alunos
  2. Psicologia – 375.465 alunos
  3. Medicina – 283.594 alunos

Formação de professores preocupa especialistas

Um dos aspectos que mais chama atenção no levantamento é a predominância do EAD na formação de novos professores. Em 2024, 69% das matrículas em cursos de licenciatura eram na modalidade à distância – um aumento de 2% em comparação com o ano anterior.

Entre os ingressantes, o cenário é ainda mais marcante: 8 a cada 10 novos alunos de licenciatura escolheram o EAD. Na rede privada, a preferência é quase absoluta, com 93,8% dos novos ingressantes matriculados na modalidade online.

Setor privado concentra oferta

A expansão do EAD está intimamente ligada ao crescimento do setor privado na educação superior. Em 2024, a rede privada foi responsável por 95,8% do total de vagas oferecidas em cursos de graduação.

Das mais de 23,6 milhões de vagas disponibilizadas no ano passado, apenas cerca de 5 milhões eram presenciais, contra mais de 18,5 milhões à distância. Mesmo assim, a taxa de ocupação permaneceu baixa: apenas 5.010.433 vagas (21,1%) foram efetivamente preenchidas.

MEC estabelece novas regras

O crescimento exponencial do EAD levantou questionamentos sobre a qualidade do ensino e levou o Ministério da Educação a anunciar, em maio deste ano, a Nova Política de Educação à Distância.

As principais mudanças estabelecem que graduações de Medicina, Direito, Odontologia, Enfermagem e Psicologia deverão ser oferecidas exclusivamente no formato presencial. Além disso, nenhum curso poderá ser 100% à distância.

A nova regulamentação exige que, no mínimo, 20% da carga horária seja cumprida presencialmente – seja na sede da instituição ou em algum campus externo, com todos os participantes fisicamente presentes – ou por meio de atividades síncronas mediadas, como aulas online ao vivo.

Crescimento de 2,7% ao ano

Segundo o documento do Inep, em um intervalo de dez anos (2014 a 2024), o total de matrículas na educação superior aumentou 30,5%, ultrapassando os dez milhões de estudantes distribuídos entre universidades públicas (20,2%) e privadas (79,8%).

A média anual de crescimento de novas matrículas alcança 2,7%. Comparado ao censo de 2023, a variação chega a 2,5%. A educação à distância teve um aumento de 1% em termos de ingressantes em relação ao ano anterior.

O presidente do Inep destacou que “a educação a distância proporcionou a ampliação da oferta e atendeu estudantes que, de outra forma, não teriam acesso à educação superior”.

Rede privada domina com mais de 8 milhões de alunos

A rede privada concentra mais de 8,1 milhões de estudantes, garantindo 80% de participação no sistema de educação superior brasileiro. Esse domínio não é recente: o processo de expansão da educação superior no país teve início no final dos anos 1990 e encontrou na rede privada o seu principal motor de crescimento.

Os dados revelam uma diferença marcante no perfil de oferta entre as instituições privadas. Nas instituições com fins lucrativos, apenas 31% dos alunos frequentam cursos presenciais – ou seja, 69% estão no EAD. Já nas instituições privadas sem fins lucrativos, o cenário se inverte: 74% dos estudantes cursam modalidade presencial.

Essa diferença expõe estratégias distintas no setor privado. As instituições com fins lucrativos apostam massivamente no EAD como modelo de negócio escalável, enquanto as sem fins lucrativos – muitas delas universidades confessionais e comunitárias – mantêm foco no ensino presencial.

Em 2024, a rede privada foi responsável por 95,8% do total de vagas oferecidas em cursos de graduação. Das mais de 23,6 milhões de vagas disponibilizadas, apenas cerca de 5 milhões eram presenciais, contra mais de 18,5 milhões à distância. Mesmo assim, a taxa de ocupação permaneceu baixa: apenas 5.010.433 vagas (21,1%) foram efetivamente preenchidas.

Desigualdade no acesso revela diferenças entre redes de ensino

Os dados revelam ainda que, na média nacional, 33% dos concluintes do ensino médio em 2023 se matricularam na educação superior em 2024. “Isso significa que um em cada três jovens que concluem a etapa básica ingressa no ensino superior no ano seguinte”, destacou Carlos Moreno, diretor de Estatísticas Educacionais do Inep.

A análise por rede de ensino, no entanto, expõe uma desigualdade gritante no sistema educacional brasileiro. Na rede federal, 64% dos concluintes do ensino médio seguiram diretamente para a educação superior – proporção muito acima da média nacional. Entre os alunos da rede privada, a taxa chegou a 60%, patamar próximo ao registrado pela rede federal.

Já na rede estadual, que concentra a maior parte dos estudantes do país, o índice despencou para apenas 27% – menos da metade da taxa registrada pelas redes federal e privada. Os números evidenciam como a origem escolar continua sendo um fator determinante para o acesso ao ensino superior no Brasil.

Os dados completos do Censo da Educação Superior 2024 estão disponíveis no portal oficial do Inep.

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